domingo, 5 de abril de 2015

José Duarte deixou-nos a saudade do entusiasmo

Há domingos e Páscoas mais felizes que outros. Fruto de algum desligamento nestes três dias de descanso merecido, só hoje tomei conhecimento da morte não anunciada de um amigo de longa data, o José Duarte. É, por certo, suficientemente anónimo para que o comum mortal o desconheça. Mas não o é para todos aqueles que andam dia-dia nos bastidores do Mundo do atletismo português.

Quando aos meus 16 anos corria para tentar ganhar uma medalha, ou para ser o melhor do meu concelho, lembro-me de me ter cruzado pela primeira vez com aqueles que no fundo reportavam o atletismo em Portugal. Não era a modalidade "trendy" dos dias de hoje, mas nessa altura já há muitos anos a Revista Atletismo tinha o seu papel na modalidade. E já nessa altura o José Duarte (o amigo Zé) tinha uma colaboração relativa aos melhores sites de informação sobre atletismo existentes na internet. Quando inaugurei o meu primeiro blog (já inexistente), onde falava sobre as provas onde passava e sobre as minhas sugestões de melhoria, um ato que hoje é frequente, mas que há 10/15 anos atrás era esporádico de se ver, lembro do Zé me contactar porque queria meter a crítica ao meu blog na Revista Atletismo. Aceitei claro!

Mais tarde o Zé ficaria associado também ao Atletismo Magazine-Modalidades Amadoras, revista em que contribui com textos, lado a lado com o José Duarte e tantos outros intervenientes da modalidade. Milhares de fotografias espalhadas pelos computadores e perfis públicos de muitos corredores foram tiradas pelo Zé.

Com o meu envolvimento no Atleta-Digital, não só o Zé voltou a dar destaque na Revista Atletismo, como seria eu próprio a convidá-lo para algumas iniciativas. Desde logo com a moderação das I Jornadas Atleta-Digital, que ajudaram a lançar a nossa atividade que durou longos anos (e há-de durar outros mais) e com algumas colaborações pontuais que foi fazendo, ou espontâneamente, ou por convite meu.

Foi também participante ativo nos passatempos do Atleta-Digital, justo vencedor em um ou dois desses passatempos.

E além daquilo que é a experiência do Zé comigo ou com projetos onde eu tenha estado, o Zé foi muito mais. Colaborou com tanta gente, conversou com tantas pessoas, fez tanto pelo atletismo português, que é honrosa e justíssima homenagem que tantos se lembrem dele e tantos contem os seus momentos com um dos portugueses mais apaixonados pela modalidade em Portugal (seguramente até mais que eu, que tenho atletismo a percorrer-me nas veias).

Não se conhece a existência de corridas depois de se cortar a meta da vida, mas se elas existirem não duvido que o Zé continuará a correr e me dará um abraço quando um dia me estrear nessas lides e, nessa altura, por homenagem, voltar a correr.

Deixo cumprimentos à família, amigos e colegas do Zé que por esta hora deverão estar a sofrer com esta morte prematura e não anunciada. E muita força para a sua filhota, que por certo continuará o legado do seu pai (porque já o demonstra e evidencia). Porque a vida nem sempre é justa e porque o atletismo sofrerá bastante com esta perda, ficou a devida homenagem a este senhor
do atletismo.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A multimédia também faz parte do jornalismo

Na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Juniores, do passado fim-de-semana, também se produziram fotografias para mais tarde recordar e mais uma reportagem vídeo, que mostra bem a energia que este evento produz nas pistas por onde passa. Junto de dois juizes muito experienciados dizia eu no jantar que tivemos no dia anterior: "gosto mais de sentir a energia deste evento do que por exemplo a que se vive nos eventos de clubes séniores". E assim foi...não se sente no vídeo?


Link para o video 

Link para as fotografias

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Em Pombal como em Eindhoven

O Sol nasce e é para todos, a neve cai e não é seca para ninguém.  Uma cobertura jornalística tem a emoção que os atletas conseguirem dar, mas pode também ter o atribulado que a Mãe Natureza nos consegue dar.

Estive pelo segundo ano consecutivo em Leiria para cobrir a Taça dos Clubes Campeões Europeus de Juniores (TCCE) , novamente muito bem organizada e com a super disponibilidade da Juventude Vidigalense para apoiar a presença da equipa do Atleta-Digital (é um daqueles casos em que uma negociação win-win tem resultados). O que se passou na TCCE de Juniores? Veja mais aqui...


Se a ida se fez num autocarro da organização que partiu do Aeroporto de Lisboa, com duas das equipas em competição, o regresso estava previsto da mesma forma. Mas ontem de manhã acordei com a minha colega Ana que preferia estar mais umas horas em Leiria e ver o castelo da cidade (há tanto tempo que era para lá ter ido) e regressar mais tardiamente a Lisboa, por comboio, a partir da cidade de Pombal (foi o dia sem carros, fiz o meu papel). A visita ao castelo foi mais demorada que o previsto, o almoço em Pombal mais longe do que era esperado, mas sem antes comprar o bilhete para o comboio, que dali sairia 2 horas a seguir.


Pelo caminho iamos observando uma extensa coluna de fumo, mas quem desconfiaria que ele cortaria A1, IC2 e linha do Norte? Foram 3 horas de espera na estação de Pombal, com repetições exaustivas de gravações de uma voz feminina que prestava declarações falsas e claramente vitimada pelo automatismo do sistema de previsão de hora de chegada do comboio.


E no meio de tudo isto deu para a conversa, para a negociação de garrafas de água (gratuitas e cedidas pela CP) noutro comboio que entretanto parara noutra linha, a observação de como o comboio despeja os líquidos recebidos nas casas-de-banho das carruagens, para alimentar formigas e até para ver um comboio de carga cheio de tronco de madeira cortadinha às postas, que seguiu a caminhoa da zona onde lavrava o fogo. Irónico hein?


O que ficou obviamente em causa foram os conteúdos no Atleta-Digital, as fotografias da competição e as poucas horas até ao sono chegar. É óbvio que não são lamentos, são factos que dão emoção à vida.

E porquê o paralelismo com Eindhoven e com o parágrafo inicial deste texto!? Lembremos o que se passou na Holanda no ano passado, mas em vez de fogo, foi frio...


Mesmo que tenha sido a última TCCE de Juniores em Leiria, o fogo  não queimou a memória de quem viu atrasado o regresso, motivado pelo próprio fogo. Há dias melhores que outros...O meu foi assim...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A imprensa no fenómeno da corrida



Correr está na moda! Correr é um fenómeno e agora não sei o que dizer, se é cultura desportiva, se é outra coisa qualquer. Todos se apoderaram do ato de correr, ao ponto da Federação Portuguesa de Atletismo  reclamar como sua a marca “atletismo”. Vou deixar essa discussão para outra altura...


Quando criei o blog “Imprensa do Atletismo” não o fiz como aproveitamento do fenómeno, porque de facto estou na imprensa dedicada ao atletismo desde 2006, altura em que ainda era praticante regular, em provas que usavam o marketing de forma mais modesta, mais modestas também na participação de atletas. Raramente uma prova aparecia na imprensa, sem ser as de top, tendo no Atleta-Digital sido um frequente escriba de um fenómeno que era muito reduzido, que gerava poucas visualizações nas notícias, que não tinha retorno...


A crise estoirou, os ginásios esvaziaram-se, as ruas encheram-se de gente e as marcas apareceram a dar sustento a novos “paraquedistas” que trouxeram um novo mercado à corrida. Os troféus concelhios passaram de moda, os prémios monetários passaram a cheirar a mofo e de repente apareceu imprensa. Por amor? Por interesse? Ou pelas duas coisas ao mesmo tempo?


As perguntas são inspiração das palavras de Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, que esta semana disse a seguinte frase no decorrer da conferência de imprensa de apresentação da Maratona de Lisboa: Estamos aqui por amor e por interesse. Infelizmente eu acho que no caso da imprensa generalizada estamos aqui a falar mesmo no “interesse”, ainda que compreendo o que faz esta imprensa olhar para o fenómeno...Estamos a falar dos jornais Expresso e i, da rádio TSF e de outros nichos de mercado que parecem movimentar-se em torno desta questão...E porquê? Tem muitas respostas possíveis (isoladas ou combinadas, depende dos pontos de vista):



Resposta 1: a corrida passou a ser de tal forma generalizada que contagiou os grandes decisores deste país.


Resposta 2: os jornais vêm tendo uma gigante quebra de vendas e necessitam de novos assuntos para a dinamização, usando a corrida como forma de dinamização de plataformas online.


Resposta 3: tem havido quebra no mundo da publicidade e a corrida é, já em si, um fenómeno que gera aposta de marcas e, consequentemente, de um tipo de publicidade diferente.



Contudo, é tudo um interesse, não por amor, mas por subsistência económica. Poderiam contar pelos dedos das mãos as publicações de jornais presentes na apresentação da Maratona de Lisboa, supostamente o evento do ano. Poderão, provavelmente, contar pelos dedos das mãos as publicações que estarão nas chegadas deste fim-de-semana no Porto (Meia-Maratona) ou em Oeiras (Corrida do Tejo). O interesse não é o da reportagem, é mesmo o do negócio com conteúdos que se mostrem simples de escrever, ou de calendários fáceis de montar. Não se trata de jornalismo puro e duro, é simplesmente...(lembram-se da palavra?).


E não, não condeno quem faça negócio com a corrida. Mas nota-se muita falta de amor, que depois da moda passar será...esquecimento até à próxima vaga de moda. Estejam, por isso, atentos ao que se vai passar a partir daqui a um ou dois meses, com mais ou 2 ou 3 players no mercado da informação sobre a corrida da moda, uns por amor, outros exclusivamente por interesse...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Luandar é verbo de África




Hoje trago-vos a mais recente história jornalística, em Angola. Na verdade a ida a Luanda não teve propósitos jornalísticos, mas acabaram por acontecer apontamentos que foram dignos de reportagem, a partir de Luanda. Em causa estava a organização da Meia-Maratona de Luanda, evento que mexeu com a cidade, que fez vibrar uma população que é, maioritariamente, pobre, mas rica ao mesmo tempo nos seus costumes…

 
Pode parecer o lugar comum onde todos os que visitam o território se escudam para relevar o interesse no país, mas Angola é um país fantástico e onde a imprensa dita um papel muito relevante, até porque muitos dos que habitam a cidade de Luanda estão muito longe do acesso aos grandes meios da era digital…
 

O primeiro facto a relatar é a chegada de avião à noite. Olha-se a cidade de cima e vê-se a sua imensidão pela quantidade de casas improvisadas, enlatadas, que albergam o expressivo número de quase 5 milhões de habitantes, cerca de metade da população portuguesa oficialmente a viver em Portugal. E logo à chegada o cenário mostra uma realidade que é frequente na cidade: as falhas de luz (além de falhas de água). A intermitência das luzes mostra uma sobrecarga do sistema de abastecimento energético, que obriga à utilização dos ruidosos geradores, alimentados a um combustível que é, afinal, demasiado barato para não ser usado…

 
A chegada noturna a Luanda faz lembrar que esta se trata claramente de uma ex-colónia portuguesa e o sustento de muitas empresas nacionais na atualidade. No voo da TAAG, o avião aterrou “sem espinhas”, o que fez levantar a força das palmas, as tais que sucedem com o povo português e por quase nenhum outro. Ainda se o voo tivesse realmente tido uma aterragem atribulada…



Continuam a faltar meios locais e erguer a Meia-Maratona de Luanda fez-se à custa de empresas e fornecedores portugueses, com todos os custos que estão inerentes a tal. Está certo que o orçamento de um milhão de dólares assim o terá permitido, como está certo que este tenha sido um investimento privado, mas em que outras causas tais verbas são movimentadas?



Um forte constraste existente com a Europa, relativamente a um evento, é a diferença entre voluntários e jovens mercenários, sem que isso tenha de constituir um problema em si mesmo. Os jovens acabariam por ser contratados para auxiliar a organização das tarefas, em troco de uns dólares, levando ainda para casa diferentes materiais de merchandising do evento. Aliás, estes materiais foram ao longo da preparação do evento e do próprio evento, cobiçados por diversas pessoas, mais ou menos jovens, de ambos os géneros sexuais. A expressão “amigo, podes dar-me uma camisola” foi repetida vezes sem fim, uma imagem que me ficará cravada durante muito tempo, num retrato que é ainda a Angola de hoje, com a sua cultura bastante enraizada. E sim, trata-se de cultura, não quero entrar pela via da discussão do que é a corrupção em Angola. Por certo as centenas de garrafas de água retiradas do espaço da Organização no dia do evento terão sido vendidas a preço de saldo no dia seguinte, nas ruas angolanas…E os mercados paralelos, são traçados por várias retas de ação de cada um dos indivíduos que buscam a sobrevivência, num país ainda muito dominado pela força militarizada ou policial.



Se o continente africano é quente, ao nível equatorial, Angola é geralmente quente na terra e no mar, como o é na vertente sexual, das duas partes da barricada. Se um homem busca ter duas ou três parceiras em diferentes regiões ou para diferentes situações da vida, as mulheres acabam por não deixar de embalar para outros contactos mais aproximados, tamanha é a relação desproporcionada no número de homens, para tantas mulheres em busca de felicidade e de outra liberdade. Daí que o hábito seja o alcançar da dupla-nacionalidade, o de aproveitar a presença do “público” estrangeiro para novos Mundos, no fundo uma luta de sobrevivência que tem a sua legitimidade, se analisada a realidade local…



E a realidade local, é um facto, está-se a transformar, numa Luanda a tornar-se num misto entre Brasil (aquele “calçadão…), Rússia (aquela sinalética para o trânsito…e o próprio trânsito) e Mundo global em geral, onde se encaixará muito bem Portugal. O alojamento num hotel afastado a cerca de 10 minutos do centro dos negócios em Luanda, permite absorver a realidade das ruas, das gentes, onde o problema da higiene da cidade se coloca a todo o momento. Por momentos Luanda também me fez lembrar a cidade turca de Istambul, com dezenas de petroleiros e de plataformas petrolíferas a mostrarem o que potencia também o incremento do capital angolano para os grandes investimentos. Por exemplo a próxima sede da Assembleia angolana é de uma grandiosidade que poderia perfeitamente fazer lembrar Washington D.C.…



No meio disto ascende-se à discussão da realidade existente entre o preço da gasolina (baixíssimo) e o preço da cidade em geral, com refeições e hotelaria caros demais, para um povo demasiado pobre. Esta incompatibilidade e aparente contradição é que permite a Luanda combater Moscovo (Rússia) e Tóquio (Japão) na classificação de uma das cidades mais caras do Mundo. Além de cara inclui-se o forte protecionismo à economia local e à moeda, impedindo-se a livre saída de Kwanzas (moeda local) no momento de abandonar o país por via aeroportuária…



Não menos importante é compreender a alguma revolta angolana pela invasão estrangeira à sua economia. Infelizmente a relação existente entre estrangeiros e locais é muitas vezes de uma perspetiva top-down, tentando levar o espírito do colonialismo de volta ao presente. Bem sabemos que há uma outra face da coroa que não existiu na história, que é o facto de desta vez Angola estar também a apoderar-se da economia portuguesa, num esforço que tem sido elevado ao mais alto estatuto governamental e não foi por acaso a visita de Pires de Lima, ministro português da Economia, a Angola no dia de aniversário de Eduardo dos Santos, eterno presidente de Angola, assim o parece. Não deixa de ser curioso que tamanho peso institucional que Eduardo Santos tem em Angola leve a que o nome escolhido para o seu dorsal da meia-maratona tenha sido “Zé Du”, uma “alcunha” descontraída demais para um presidente contraído em excesso.

 

A capacitação (ou falta dela) é, assim, o problema de base em Angola. Desdobram-se as Universidades em busca de parcerias com outras no estrangeiro, tenta-se que os angolanos a viver em Portugal há vários anos regressem ao seu país, agora que está livre de guerras ou guerrilhas. Tenta-se no fundo reerguer um país que aparentemente busca um equilíbrio que demorará gerações a recuperar...



Foi em todo este cenário que se desenrolou a primeira edição da Meia-Maratona Internacional de Luanda, uma porta aberta para que se abra em África mais uma porta feliz de cooperação entre comunidade internacional e angolanos, ultrapassados que estão os problemas do passado e com relações diplomáticas muito mais abertas, pelo menos com Portugal, mas também com potências do Mundo como Rússia, Estados Unidos da América e China.



Só posso agradecer a Luanda pela tamanha experiência de vida! (desta vez lamento a extensão do artigo...mas não consegui ser mais sintético nas palavras...)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

José Milhazes – o especial enviado à Rússia


Na minha recente ida a Moscovo, encontrei José Milhazes, correspondente internacional da Agência Lusa e SIC, no Leste europeu, precisamente na Rússia. Ao longo das grandes competições internacionais já contactei com outros correspondentes internacionais, mas nenhum como José Milhazes…

E não, não estou aqui a avaliar competências profissionais (quem sou eu para isso?). Mas que coisa melhor que estar num país completamente estranho, tendo as análises de fundo de um residente local há dezenas de anos…

Nos diários que fiz a partir de Moscovo cheguei a referir episódios que têm o amigo Milhazes como fonte, mas hoje, mais do que um reencaminhador de histórias, quero partilhar convosco uma pequena entrevista que fiz com José Milhazes durante o Campeonato do Mundo de atletismo.
Há que referir que este jornalista é muito ativo no seu blog (http://darussia.blogspot.com) e também nas redes sociais (dizem…)


Quando começaste esta aventura nos Blogs? E porquê?
Comecei o meu blog em 2006, porque considerei que, através dele, poderia transmitir aos outros aspectos interessantes da Rússia e de outras repúblicas da antiga União Soviética. O meu princípio continua a ser: se alguém lê o meu blog, então vale a pena continuar a mantê-lo vivo.

Sei que não és especialista na área do atletismo, mas que memórias tens de atletas portugueses na Rússia?

Recordo-me da participação da atleta Fernanda Ribeiro numa prova em Moscovo e depois ter falado com ela. E agora o Campeonato do Mundo de Atletismo. Não estive nos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980, porque os estudantes estrangeiros foram "enviados para férias" nessa altura.

Tu que já acompanhaste alguns eventos desportivos na Rússia, como achas que foi encarado este Mundial de Atletismo pelos russos?
Considero que não houve grande interesse por parte dos espectadores. Havia pouca gente nas bancadas, mas talvez isso se deva ao bom Verão em Moscovo.

A Educação Física é na Rússia ainda pensada do ponto de vista da cultura da Educação Física (mais de regime), ou há passos na progressão para se ver o desporto enquanto uma forma individualizada de desfrutar uma parte do dia?
Da parte das autoridades, há claramente uma forte vontade de voltar a politizar o desporto, tal como aconteceu durante a "guerra fria". Um sinal disso é a sede das autoridades russas em organizar importantes competições internacionais para mostrarem que "também podemos e sabemos".

Por outro lado, há muitos russos que se dedicam ao desporto para manter a forma e a saúde.

Dos livros que já escreveste, qual foi aquele que te deu mais gozo de escrever?
Todos, embora o gozo seja diferente. Quanto mais descobertas e novidades puder revelar, melhor. Os livros são como os filhos, gosto muito de todos, mas de forma diferente.  O último "Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril", que começou a ser vendido muito recentemente em Portugal, foi talvez o mais difícil, mas estou satisfeito com os livros que escrevi sobre as relações entre Portugal e a Rússia ou sobre as relações entre a URSS e as antigas colónias portuguesas.


domingo, 25 de agosto de 2013

A foto que não é de acreditar



O Estádio de Luzhniki só tinha 50 mil lugares e a transmissão televisiva do Mundial de Atletismo mostrava trovões ao fundo da cidade de Moscovo. Reduzamos a 50 mil aqueles que viram o primeiro Ouro de Usain Bolt ao vivo e a cores, dentro do estádio.

Se destes cortarmos a um quarto os que puderam eventualmente ver o que a fotografia abaixo mostra, ficamos com cerca de 12 mil que podem analisá-la (o que até podia ser menos, dado que quem esteve a ver a prova junto à cobertura nunca veria esta imagem acontecer). Vah, falemos em 10 mil, números redondos e até muito generosos...

E eu diria que dos 10 mil só houve uma única pessoa que viu (ou sonhou?) esta fotografia tirada pelo francês Olivier Morin (France-Presse). Por muito que o argumento utilizado seja a utilização da máquina fotográfica remota que é instalada de frente para os atletas (que demoram largos minutos a serem montadas pelos fotógrafos de pista antes da jornada começar), por mais rápido que seja o intervalo de disparo, não se explica como o fotógrafo captou um relâmpago quando:


- até então só se viam clarões no céu e longe daquele local;

- não existiu sequer um único clarão durante a prova de Usain Bolt;

- não se ouviu qualquer barulho de trovoada à altura;


Tecnicamente, por muito ISO que uma máquina daquele nível possa apresentar, como poderá o fotógrafo equilibrar a imagem, de forma a ter o Usain Bolt e o relâmpago de tal forma definidos? E se virem as duas fotografias em sequência, como pode ser o relâmpago exatamente igual?


Por estes e outros motivos mais técnicos (apanhar relâmpagos é uma das tarefas mais árduas de se fazer em fotografia), faço parto daquele grupo de descrentes que consideram que esta fotografia é um mero produto de manipulação de imagem – curiosamente mais ninguém apanhou tal momento, nem parte dele. Só espero que o World Press Photo pense nisto quando decidir as fotografias vencedoras deste ano...