Há domingos e Páscoas mais felizes que outros. Fruto de algum desligamento nestes três dias de descanso merecido, só hoje tomei conhecimento da morte não anunciada de um amigo de longa data, o José Duarte. É, por certo, suficientemente anónimo para que o comum mortal o desconheça. Mas não o é para todos aqueles que andam dia-dia nos bastidores do Mundo do atletismo português.
Quando aos meus 16 anos corria para tentar ganhar uma medalha, ou para ser o melhor do meu concelho, lembro-me de me ter cruzado pela primeira vez com aqueles que no fundo reportavam o atletismo em Portugal. Não era a modalidade "trendy" dos dias de hoje, mas nessa altura já há muitos anos a Revista Atletismo tinha o seu papel na modalidade. E já nessa altura o José Duarte (o amigo Zé) tinha uma colaboração relativa aos melhores sites de informação sobre atletismo existentes na internet. Quando inaugurei o meu primeiro blog (já inexistente), onde falava sobre as provas onde passava e sobre as minhas sugestões de melhoria, um ato que hoje é frequente, mas que há 10/15 anos atrás era esporádico de se ver, lembro do Zé me contactar porque queria meter a crítica ao meu blog na Revista Atletismo. Aceitei claro!
Mais tarde o Zé ficaria associado também ao Atletismo Magazine-Modalidades Amadoras, revista em que contribui com textos, lado a lado com o José Duarte e tantos outros intervenientes da modalidade. Milhares de fotografias espalhadas pelos computadores e perfis públicos de muitos corredores foram tiradas pelo Zé.
Com o meu envolvimento no Atleta-Digital, não só o Zé voltou a dar destaque na Revista Atletismo, como seria eu próprio a convidá-lo para algumas iniciativas. Desde logo com a moderação das I Jornadas Atleta-Digital, que ajudaram a lançar a nossa atividade que durou longos anos (e há-de durar outros mais) e com algumas colaborações pontuais que foi fazendo, ou espontâneamente, ou por convite meu.
Foi também participante ativo nos passatempos do Atleta-Digital, justo vencedor em um ou dois desses passatempos.
E além daquilo que é a experiência do Zé comigo ou com projetos onde eu tenha estado, o Zé foi muito mais. Colaborou com tanta gente, conversou com tantas pessoas, fez tanto pelo atletismo português, que é honrosa e justíssima homenagem que tantos se lembrem dele e tantos contem os seus momentos com um dos portugueses mais apaixonados pela modalidade em Portugal (seguramente até mais que eu, que tenho atletismo a percorrer-me nas veias).
Não se conhece a existência de corridas depois de se cortar a meta da vida, mas se elas existirem não duvido que o Zé continuará a correr e me dará um abraço quando um dia me estrear nessas lides e, nessa altura, por homenagem, voltar a correr.
Deixo cumprimentos à família, amigos e colegas do Zé que por esta hora deverão estar a sofrer com esta morte prematura e não anunciada. E muita força para a sua filhota, que por certo continuará o legado do seu pai (porque já o demonstra e evidencia). Porque a vida nem sempre é justa e porque o atletismo sofrerá bastante com esta perda, ficou a devida homenagem a este senhor
do atletismo.
A imprensa do atletismo
domingo, 5 de abril de 2015
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
A multimédia também faz parte do jornalismo
Na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Juniores, do passado fim-de-semana, também se produziram fotografias para mais tarde recordar e mais uma reportagem vídeo, que mostra bem a energia que este evento produz nas pistas por onde passa. Junto de dois juizes muito experienciados dizia eu no jantar que tivemos no dia anterior: "gosto mais de sentir a energia deste evento do que por exemplo a que se vive nos eventos de clubes séniores". E assim foi...não se sente no vídeo?
Link para o video
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Link para as fotografias
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Em Pombal como em Eindhoven
O Sol nasce e é para todos, a neve cai e não é seca para
ninguém. Uma cobertura jornalística tem
a emoção que os atletas conseguirem dar, mas pode também ter o atribulado que a
Mãe Natureza nos consegue dar.
Estive pelo segundo ano consecutivo em Leiria para cobrir a
Taça dos Clubes Campeões Europeus de Juniores (TCCE) , novamente muito bem
organizada e com a super disponibilidade da Juventude Vidigalense para apoiar a
presença da equipa do Atleta-Digital (é um daqueles casos em que uma negociação
win-win tem resultados). O que se passou na TCCE de Juniores? Veja mais aqui...
Se a ida se fez num autocarro da organização que partiu do
Aeroporto de Lisboa, com duas das equipas em competição, o regresso estava
previsto da mesma forma. Mas ontem de manhã acordei com a minha colega Ana que
preferia estar mais umas horas em Leiria e ver o castelo da cidade (há tanto
tempo que era para lá ter ido) e regressar mais tardiamente a Lisboa, por
comboio, a partir da cidade de Pombal (foi o dia sem carros, fiz o meu papel).
A visita ao castelo foi mais demorada que o previsto, o almoço em Pombal mais
longe do que era esperado, mas sem antes comprar o bilhete para o comboio, que
dali sairia 2 horas a seguir.
Pelo caminho iamos observando uma extensa coluna de fumo,
mas quem desconfiaria que ele cortaria A1, IC2 e linha do Norte? Foram 3 horas
de espera na estação de Pombal, com repetições exaustivas de gravações de uma
voz feminina que prestava declarações falsas e claramente vitimada pelo automatismo
do sistema de previsão de hora de chegada do comboio.
E no meio de tudo isto deu para a conversa, para a
negociação de garrafas de água (gratuitas e cedidas pela CP) noutro comboio que
entretanto parara noutra linha, a observação de como o comboio despeja os
líquidos recebidos nas casas-de-banho das carruagens, para alimentar formigas e
até para ver um comboio de carga cheio de tronco de madeira cortadinha às
postas, que seguiu a caminhoa da zona onde lavrava o fogo. Irónico hein?
O que ficou obviamente em causa foram os conteúdos no
Atleta-Digital, as fotografias da competição e as poucas horas até ao sono
chegar. É óbvio que não são lamentos, são factos que dão emoção à vida.
E porquê o paralelismo com Eindhoven e com o parágrafo
inicial deste texto!? Lembremos o que se passou na Holanda no ano passado, mas
em vez de fogo, foi frio...
Mesmo que tenha sido a última TCCE de Juniores em Leiria, o
fogo não queimou a memória de quem viu
atrasado o regresso, motivado pelo próprio fogo. Há dias melhores que outros...O
meu foi assim...
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
A imprensa no fenómeno da corrida
Correr está na moda! Correr é um fenómeno e agora não sei o
que dizer, se é cultura desportiva, se é outra coisa qualquer. Todos se
apoderaram do ato de correr, ao ponto da Federação Portuguesa de Atletismo reclamar como sua a marca “atletismo”. Vou
deixar essa discussão para outra altura...
Quando criei o blog “Imprensa do Atletismo” não o fiz como
aproveitamento do fenómeno, porque de facto estou na imprensa dedicada ao
atletismo desde 2006, altura em que ainda era praticante regular, em provas que
usavam o marketing de forma mais modesta, mais modestas também na participação
de atletas. Raramente uma prova aparecia na imprensa, sem ser as de top, tendo
no Atleta-Digital sido um frequente escriba de um fenómeno que era muito
reduzido, que gerava poucas visualizações nas notícias, que não tinha
retorno...
A crise estoirou, os ginásios esvaziaram-se, as ruas
encheram-se de gente e as marcas apareceram a dar sustento a novos “paraquedistas”
que trouxeram um novo mercado à corrida. Os troféus concelhios passaram de
moda, os prémios monetários passaram a cheirar a mofo e de repente apareceu
imprensa. Por amor? Por interesse? Ou pelas duas coisas ao mesmo tempo?
As perguntas são inspiração das palavras de Carlos
Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, que esta semana disse a
seguinte frase no decorrer da conferência de imprensa de apresentação da Maratona
de Lisboa: Estamos aqui por amor e por interesse. Infelizmente eu acho que no caso da imprensa generalizada estamos aqui
a falar mesmo no “interesse”, ainda que compreendo o que faz esta imprensa
olhar para o fenómeno...Estamos a falar dos jornais Expresso e i, da rádio TSF
e de outros nichos de mercado que parecem movimentar-se em torno desta
questão...E porquê? Tem muitas respostas possíveis (isoladas ou combinadas,
depende dos pontos de vista):
Resposta 1: a
corrida passou a ser de tal forma generalizada que contagiou os grandes
decisores deste país.
Resposta 2: os
jornais vêm tendo uma gigante quebra de vendas e necessitam de novos assuntos
para a dinamização, usando a corrida como forma de dinamização de plataformas
online.
Resposta 3: tem
havido quebra no mundo da publicidade e a corrida é, já em si, um fenómeno que
gera aposta de marcas e, consequentemente, de um tipo de publicidade diferente.
Contudo, é tudo um
interesse, não por amor, mas por subsistência económica. Poderiam contar pelos
dedos das mãos as publicações de jornais presentes na apresentação da Maratona
de Lisboa, supostamente o evento do ano. Poderão, provavelmente, contar pelos
dedos das mãos as publicações que estarão nas chegadas deste fim-de-semana no
Porto (Meia-Maratona) ou em Oeiras (Corrida do Tejo). O interesse não é o da
reportagem, é mesmo o do negócio com conteúdos que se mostrem simples de
escrever, ou de calendários fáceis de montar. Não se trata de jornalismo puro e
duro, é simplesmente...(lembram-se da palavra?).
E não, não condeno
quem faça negócio com a corrida. Mas nota-se muita falta de amor, que depois da
moda passar será...esquecimento até à próxima vaga de moda. Estejam, por isso,
atentos ao que se vai passar a partir daqui a um ou dois meses, com mais ou 2
ou 3 players no mercado da informação sobre a corrida da moda, uns por amor,
outros exclusivamente por interesse...
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Luandar é verbo de África
Hoje trago-vos a mais
recente história jornalística, em Angola. Na verdade a ida a Luanda não teve
propósitos jornalísticos, mas acabaram por acontecer apontamentos que foram
dignos de reportagem, a partir de Luanda. Em causa estava a organização da Meia-Maratona
de Luanda, evento que mexeu com a cidade, que fez vibrar uma população que é,
maioritariamente, pobre, mas rica ao mesmo tempo nos seus costumes…
Pode parecer o lugar
comum onde todos os que visitam o território se escudam para relevar o
interesse no país, mas Angola é um país fantástico e onde a imprensa dita um
papel muito relevante, até porque muitos dos que habitam a cidade de Luanda
estão muito longe do acesso aos grandes meios da era digital…
O primeiro facto a relatar
é a chegada de avião à noite. Olha-se a cidade de cima e vê-se a sua imensidão
pela quantidade de casas improvisadas, enlatadas, que albergam o expressivo
número de quase 5 milhões de habitantes, cerca de metade da população
portuguesa oficialmente a viver em Portugal. E logo à chegada o cenário mostra uma
realidade que é frequente na cidade: as falhas de luz (além de falhas de água).
A intermitência das luzes mostra uma sobrecarga do sistema de abastecimento
energético, que obriga à utilização dos ruidosos geradores, alimentados a um
combustível que é, afinal, demasiado barato para não ser usado…
A chegada noturna a
Luanda faz lembrar que esta se trata claramente de uma ex-colónia portuguesa e
o sustento de muitas empresas nacionais na atualidade. No voo da TAAG, o avião
aterrou “sem espinhas”, o que fez levantar a força das palmas, as tais que
sucedem com o povo português e por quase nenhum outro. Ainda se o voo tivesse
realmente tido uma aterragem atribulada…
Continuam a faltar meios
locais e erguer a Meia-Maratona de Luanda fez-se à custa de empresas e
fornecedores portugueses, com todos os custos que estão inerentes a tal. Está
certo que o orçamento de um milhão de dólares assim o terá permitido, como está
certo que este tenha sido um investimento privado, mas em que outras causas
tais verbas são movimentadas?
Um forte constraste
existente com a Europa, relativamente a um evento, é a diferença entre
voluntários e jovens mercenários, sem que isso tenha de constituir um problema
em si mesmo. Os jovens acabariam por ser contratados para auxiliar a
organização das tarefas, em troco de uns dólares, levando ainda para casa
diferentes materiais de merchandising do evento. Aliás, estes materiais foram
ao longo da preparação do evento e do próprio evento, cobiçados por diversas
pessoas, mais ou menos jovens, de ambos os géneros sexuais. A expressão “amigo,
podes dar-me uma camisola” foi repetida vezes sem fim, uma imagem que me ficará
cravada durante muito tempo, num retrato que é ainda a Angola de hoje, com a
sua cultura bastante enraizada. E sim, trata-se de cultura, não quero entrar
pela via da discussão do que é a corrupção em Angola. Por certo as centenas de
garrafas de água retiradas do espaço da Organização no dia do evento terão sido
vendidas a preço de saldo no dia seguinte, nas ruas angolanas…E os mercados
paralelos, são traçados por várias retas de ação de cada um dos indivíduos que
buscam a sobrevivência, num país ainda muito dominado pela força militarizada
ou policial.
Se o continente africano
é quente, ao nível equatorial, Angola é geralmente quente na terra e no mar,
como o é na vertente sexual, das duas partes da barricada. Se um homem busca
ter duas ou três parceiras em diferentes regiões ou para diferentes situações
da vida, as mulheres acabam por não deixar de embalar para outros contactos
mais aproximados, tamanha é a relação desproporcionada no número de homens,
para tantas mulheres em busca de felicidade e de outra liberdade. Daí que o
hábito seja o alcançar da dupla-nacionalidade, o de aproveitar a presença do
“público” estrangeiro para novos Mundos, no fundo uma luta de sobrevivência que
tem a sua legitimidade, se analisada a realidade local…
E a realidade local, é um
facto, está-se a transformar, numa Luanda a tornar-se num misto entre Brasil
(aquele “calçadão…), Rússia (aquela sinalética para o trânsito…e o próprio
trânsito) e Mundo global em geral, onde se encaixará muito bem Portugal. O
alojamento num hotel afastado a cerca de 10 minutos do centro dos negócios em
Luanda, permite absorver a realidade das ruas, das gentes, onde o problema da
higiene da cidade se coloca a todo o momento. Por momentos Luanda também me fez
lembrar a cidade turca de Istambul, com dezenas de petroleiros e de plataformas
petrolíferas a mostrarem o que potencia também o incremento do capital angolano
para os grandes investimentos. Por exemplo a próxima sede da Assembleia
angolana é de uma grandiosidade que poderia perfeitamente fazer lembrar
Washington D.C.…
No meio disto ascende-se
à discussão da realidade existente entre o preço da gasolina (baixíssimo) e o
preço da cidade em geral, com refeições e hotelaria caros demais, para um povo
demasiado pobre. Esta incompatibilidade e aparente contradição é que permite a
Luanda combater Moscovo (Rússia) e Tóquio (Japão) na classificação de uma das
cidades mais caras do Mundo. Além de cara inclui-se o forte protecionismo à
economia local e à moeda, impedindo-se a livre saída de Kwanzas (moeda local)
no momento de abandonar o país por via aeroportuária…
Não menos importante é
compreender a alguma revolta angolana pela invasão estrangeira à sua economia. Infelizmente
a relação existente entre estrangeiros e locais é muitas vezes de uma
perspetiva top-down, tentando levar o espírito do colonialismo de volta ao
presente. Bem sabemos que há uma outra face da coroa que não existiu na história,
que é o facto de desta vez Angola estar também a apoderar-se da economia
portuguesa, num esforço que tem sido elevado ao mais alto estatuto
governamental e não foi por acaso a visita de Pires de Lima, ministro português
da Economia, a Angola no dia de aniversário de Eduardo dos Santos, eterno
presidente de Angola, assim o parece. Não deixa de ser curioso que tamanho peso
institucional que Eduardo Santos tem em Angola leve a que o nome escolhido para
o seu dorsal da meia-maratona tenha sido “Zé Du”, uma “alcunha” descontraída
demais para um presidente contraído em excesso.
A capacitação (ou falta
dela) é, assim, o problema de base em Angola. Desdobram-se as Universidades em
busca de parcerias com outras no estrangeiro, tenta-se que os angolanos a viver
em Portugal há vários anos regressem ao seu país, agora que está livre de
guerras ou guerrilhas. Tenta-se no fundo reerguer um país que aparentemente
busca um equilíbrio que demorará gerações a recuperar...
Foi em todo este cenário
que se desenrolou a primeira edição da Meia-Maratona Internacional de Luanda,
uma porta aberta para que se abra em África mais uma porta feliz de cooperação
entre comunidade internacional e angolanos, ultrapassados que estão os
problemas do passado e com relações diplomáticas muito mais abertas, pelo menos
com Portugal, mas também com potências do Mundo como Rússia, Estados Unidos da
América e China.
Só posso agradecer a
Luanda pela tamanha experiência de vida! (desta vez lamento a extensão do
artigo...mas não consegui ser mais sintético nas palavras...)
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
José Milhazes – o especial enviado à Rússia
Na minha recente ida a Moscovo,
encontrei José Milhazes, correspondente internacional da Agência Lusa e SIC, no
Leste europeu, precisamente na Rússia. Ao longo das grandes competições
internacionais já contactei com outros correspondentes internacionais, mas
nenhum como José Milhazes…
E não, não estou aqui a avaliar
competências profissionais (quem sou eu para isso?). Mas que coisa melhor que
estar num país completamente estranho, tendo as análises de fundo de um
residente local há dezenas de anos…
Nos diários que fiz a partir de
Moscovo cheguei a referir episódios que têm o amigo Milhazes como fonte, mas
hoje, mais do que um reencaminhador de histórias, quero partilhar convosco uma
pequena entrevista que fiz com José Milhazes durante o Campeonato do Mundo de
atletismo.
Há que referir que este
jornalista é muito ativo no seu blog (http://darussia.blogspot.com)
e também nas redes sociais (dizem…)
Quando
começaste esta aventura nos Blogs? E porquê?
Comecei
o meu blog em 2006, porque considerei que, através dele, poderia transmitir aos
outros aspectos interessantes da Rússia e de outras repúblicas da antiga União
Soviética. O meu princípio continua a ser: se alguém lê o meu blog, então vale
a pena continuar a mantê-lo vivo.
Sei que não és especialista na área do atletismo, mas que memórias tens de atletas portugueses na Rússia?
Recordo-me
da participação da atleta Fernanda Ribeiro numa prova em Moscovo e depois ter
falado com ela. E agora o Campeonato do Mundo de Atletismo. Não estive nos
Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980, porque os estudantes estrangeiros foram
"enviados para férias" nessa altura.
Tu que já acompanhaste alguns eventos desportivos na Rússia, como achas que foi encarado este Mundial de Atletismo pelos russos?
Considero
que não houve grande interesse por parte dos espectadores. Havia pouca gente
nas bancadas, mas talvez isso se deva ao bom Verão em Moscovo.
A Educação Física é na Rússia ainda pensada do ponto de vista da cultura da Educação Física (mais de regime), ou há passos na progressão para se ver o desporto enquanto uma forma individualizada de desfrutar uma parte do dia?
Da
parte das autoridades, há claramente uma forte vontade de voltar a politizar o
desporto, tal como aconteceu durante a "guerra fria". Um sinal disso
é a sede das autoridades russas em organizar importantes competições
internacionais para mostrarem que "também podemos e sabemos".
Por outro lado, há muitos russos que se dedicam ao desporto para manter a forma e a saúde.
Por outro lado, há muitos russos que se dedicam ao desporto para manter a forma e a saúde.
Dos livros que já escreveste, qual foi aquele que te deu mais gozo de escrever?
Todos,
embora o gozo seja diferente. Quanto mais descobertas e novidades puder
revelar, melhor. Os livros são como os filhos, gosto muito de todos, mas de
forma diferente. O último "Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril",
que começou a ser vendido muito recentemente em Portugal, foi talvez o mais
difícil, mas estou satisfeito com os livros que escrevi sobre as relações entre
Portugal e a Rússia ou sobre as relações entre a URSS e as antigas colónias
portuguesas.
domingo, 25 de agosto de 2013
A foto que não é de acreditar
O Estádio de Luzhniki só tinha 50 mil lugares e a
transmissão televisiva do Mundial de Atletismo mostrava trovões ao fundo da
cidade de Moscovo. Reduzamos a 50 mil aqueles que viram o primeiro Ouro de
Usain Bolt ao vivo e a cores, dentro do estádio.
Se destes cortarmos a um quarto os que puderam eventualmente
ver o que a fotografia abaixo mostra, ficamos com cerca de 12 mil que podem
analisá-la (o que até podia ser menos, dado que quem esteve a ver a prova junto
à cobertura nunca veria esta imagem acontecer). Vah, falemos em 10 mil, números
redondos e até muito generosos...
E eu diria que dos 10 mil só houve uma única pessoa que viu
(ou sonhou?) esta fotografia tirada pelo francês Olivier Morin (France-Presse).
Por muito que o argumento utilizado seja a utilização da máquina fotográfica
remota que é instalada de frente para os atletas (que demoram largos minutos a
serem montadas pelos fotógrafos de pista antes da jornada começar), por mais
rápido que seja o intervalo de disparo, não se explica como o fotógrafo captou
um relâmpago quando:
- até então só se viam clarões no céu e longe daquele local;
- não existiu sequer um único clarão durante a prova de
Usain Bolt;
- não se ouviu qualquer barulho de trovoada à altura;
Tecnicamente, por muito ISO que uma máquina daquele nível
possa apresentar, como poderá o fotógrafo equilibrar a imagem, de forma a ter o
Usain Bolt e o relâmpago de tal forma definidos? E se virem as duas fotografias
em sequência, como pode ser o relâmpago exatamente igual?
Por estes e outros motivos mais técnicos (apanhar relâmpagos
é uma das tarefas mais árduas de se fazer em fotografia), faço parto daquele
grupo de descrentes que consideram que esta fotografia é um mero produto de
manipulação de imagem – curiosamente mais ninguém apanhou tal momento, nem
parte dele. Só espero que o World Press Photo pense nisto quando decidir as
fotografias vencedoras deste ano...
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